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Olavo de Carvalho e a Arte de Pensar Melhor: uma crítica à sociedade do fracasso intelectual

Introdução – Por que falar bem é mais raro hoje?

No Brasil de hoje, falar bem virou quase um ato de resistência cultural. A maioria dos discursos públicos é uma mistura indigesta de frases prontas, slogans publicitários e fórmulas cuidadosamente esterilizadas para não ofender ninguém. O orador contemporâneo parece mais preocupado em não ser processado do que em comunicar uma ideia. É a era da fala sem risco, sem vértebras, sem carne — e, portanto, sem vida. E o pior: essa mediocridade não é acidental, mas cultivada como virtude.

Há um contraste gritante quando olhamos para o passado. Basta ouvir uma gravação antiga de Carlos Lacerda ou ler um discurso de Ruy Barbosa para perceber a diferença. Não é apenas a erudição — que hoje já seria escandalosa —, mas a densidade intelectual, a ironia afiada, a coragem de provocar. Os antigos oradores não falavam para agradar a plateia; falavam para mover consciências e, se necessário, para humilhar a burrice. Hoje, o objetivo é exatamente o oposto: agradar a todos, mesmo que isso signifique não dizer absolutamente nada.

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A decadência da retórica não veio de um dia para o outro. Foi resultado de um processo de achatamento cultural, no qual a linguagem foi sendo reduzida a um instrumento de marketing político. Em vez de pensar, o político repete palavras-chave; em vez de argumentar, acena para a sua “base”. O discurso deixa de ser uma ponte entre inteligências e vira apenas um sinal de fumaça para identificar o próprio grupo. É a substituição da eloquência pela propaganda.

E nesse cenário, o “politicamente correto” desempenhou um papel central. Antigamente, a restrição do discurso vinha de regimes autoritários declarados. Hoje, a censura é mais sutil e mais eficaz: é exercida por um código social invisível, mas amplamente internalizado. O orador não pensa “o que é verdadeiro?”, mas “o que é seguro dizer?”. A verdade passou a ser medida pelo risco jurídico e pelo potencial de linchamento nas redes sociais.

Esse medo das palavras produziu uma geração inteira de falantes que nunca ousam pensar alto. Um exemplo: Aristóteles dizia que “a palavra ‘cão’ não morde”. Era uma observação óbvia, quase infantil. No entanto, no ambiente atual, essa frase seria recebida com protestos de associações de proteção animal, coletivos acadêmicos e colunas indignadas nos jornais. As palavras deixaram de ser símbolos e passaram a ser tratadas como crimes em miniatura.

A consequência prática disso é devastadora para a oratória. A boa retórica sempre exigiu risco, porque o ato de convencer implica a possibilidade de ofender. A clareza intelectual tem algo de insolente: ela rompe ilusões, desmonta mentiras e obriga o interlocutor a encarar a realidade. Se o orador abdica desse risco, ele abdica também da sua força persuasiva. E é exatamente isso que se vê: discursos que não incomodam ninguém porque também não convencem ninguém.

O medo de falar, no entanto, não é só psicológico. Ele é reforçado por um sistema educacional que, há décadas, trata a linguagem como ferramenta ideológica. Não se ensina mais a pensar com as próprias palavras, mas a reproduzir o jargão correto, a distorcer fatos históricos. Essa padronização não mata apenas o conteúdo; mata também o ritmo, a cadência, o prazer da fala. O resultado é um país onde o vocabulário médio das lideranças políticas caberia em uma cartilha escolar.

Quando a sociedade tolera esse rebaixamento, ela perde mais do que a estética da fala; perde a própria capacidade de raciocínio público. Um bom discurso não é apenas bonito; é um ato de pensamento em voz alta, um processo mental aberto para a plateia. Se o orador não sabe falar, ele provavelmente também não sabe pensar. E se não sabe pensar, governar torna-se apenas um exercício de repetir ordens recebidas de fora.

A tempos atrás, na década de 70 a 80, até mesmo antes, entendiam a importância de uma construção do pensamento crítico intuitivamente. Um debate no parlamento, mesmo acalorado, era um espetáculo de inteligência, e não apenas de hostilidade. Quando Conceição da Costa Neves disse a Lacerda: “O senhor não serve para nada”, ele respondeu: “E a senhora, é o nada em pessoa.” Essa troca, além de espirituosa, mostra algo que se perdeu: a confiança de que a inteligência, mesmo ferina, era legítima no espaço público. 

O Duelo de palavras é um reflexo de um esforço mental bem organizado, exige estudo, prática e conhecimento. É preciso um trabalho intelectual árduo para dominar uma boa oratória, quando afirmo isso, não me refiro a uma simplória forma de falar com as massas, mas sim de boa argumentação, pensamentos estruturados e com profundidade metafísica. 

Hoje, ao contrário, confunde-se civilidade com esterilidade. A cultura política brasileira parece acreditar que, se retirarmos toda a fricção verbal, a sociedade se tornará mais “harmoniosa”. Mas o que se vê é exatamente o oposto: uma hostilidade surda, que não se manifesta nas palavras, mas nos atos. O ressentimento se acumula porque as divergências não podem ser expressas com franqueza. E, sem a ventilação da palavra, a política se torna uma panela de pressão prestes a explodir.

O palco está dominado por ventríloquos de suas assessorias, que leem frases calibradas como quem manuseia um produto frágil. E, no entanto, sem oradores autênticos, o debate público é reduzido a um eco monótono, onde ninguém ouve nada novo e todos repetem o que já sabiam — ou pensavam saber. 

2. Formação cultural e treino de linguagem

O primeiro passo para qualquer domínio verdadeiro da linguagem é uma dieta rigorosa de boa literatura. Não existe atalho. Um vocabulário robusto e uma sintaxe precisa não surgem de manuais de redação ou apostilas de concurso. Eles nascem do contato prolongado com textos que resistiram ao tempo — não porque “caíram no gosto do povo”, mas porque sobreviveram à prova da inteligência crítica de várias gerações. 

Olavo de Carvalho afirma que em sua juventude, a leitura de Machado de Assis, Eça de Queiroz, José de Alencar e Camilo Castelo Branco não era uma excentricidade; era um rito de passagem. 

Hoje, essas obras são tratadas como “elitismo”. Resultado disto é que o país trocou a prosa de um Machado por aulões de macetes e mnemônicos de gramática para vestibular.

O contato precoce com esses autores não é apenas um exercício estético; é um treinamento mental. Um bom escritor não transmite apenas informações, mas também uma forma de pensar. Cada frase é um pequeno laboratório de raciocínio, onde as ideias são moldadas, polidas e organizadas com um objetivo específico. Ao ler um Machado, por exemplo, o estudante aprende, quase por osmose, o uso da ironia, a arte da insinuação, o manejo do subentendido. Ao ler Eça, absorve o ritmo da narrativa e o encadeamento de descrições que sustentam a trama. Não é apenas leitura — é um transplante de inteligência.

Depois vem a fase que muitos pulam por preconceito: a imitação. Desde a Antiguidade, os grandes mestres recomendavam que o aprendiz copiasse os modelos mais altos, não para eternamente repetir seus trejeitos, mas para internalizar a mecânica interna de sua arte. 

Olavo conta que quando começou a escrever, copiava deliberadamente o estilo de cada autor que admirava. Num dia, tentava emular o sarcasmo de Lima Barreto; no outro, a solenidade de Rui Barbosa; e, em outros momentos, a limpidez quase matemática de Fernando Pessoa. Isso o forçava a sair da zona de conforto e a descobrir, no esforço de “ser outro”, recursos que jamais encontraria sozinho.

Esse exercício de imitação é como um ginásio da linguagem. Cada autor tem um “peso” diferente a ser levantado: uns trabalham o músculo da concisão, outros o da ornamentação, outros o da clareza lógica. Ao passar por todos, o escritor vai construindo uma musculatura completa, capaz de sustentar qualquer discurso. O resultado não é a perda de identidade, mas justamente o contrário: quanto mais repertório você absorve, mais evidente se torna o seu próprio timbre.

O terceiro pilar é a memorização — hábito hoje quase extinto, porque a tecnologia nos deu a ilusão de que podemos terceirizar a memória para um dispositivo eletrônico. A verdade é que a memória é um músculo intelectual, e, se não for exercitada, atrofia. Quando eu memorizava um poema de Olavo Bilac ou um trecho de “Os Lusíadas”, não estava apenas guardando palavras; estava treinando a mente para sustentar ideias completas na ausência de qualquer suporte físico. Isso é fundamental para qualquer orador: a capacidade de manter na cabeça a arquitetura inteira do que vai dizer, sem depender de papéis ou teleprompters.

A memorização de textos musicais — como no caso da Quinta Sinfonia de Beethoven — reforça ainda mais essa habilidade. Não se trata de decorar notas por si mesmas, mas de gravar a estrutura, as transições, a lógica interna da composição. A música ensina o que muitos escritores ignoram: que um bom discurso é, antes de tudo, harmonia. Cada frase deve preparar a seguinte, cada pausa deve ter sentido, e todo o conjunto precisa caminhar para um clímax. É impossível aprender isso apenas com teoria; é preciso vivenciar a unidade orgânica de uma obra-prima.

A prática de memorizar e repetir textos cria uma intimidade com a linguagem que vai muito além do dicionário. Você começa a sentir quando uma frase está “errada” não por regra gramatical, mas por dissonância interna. É como um músico que sabe, de ouvido, quando uma nota está fora do tom. Esse tipo de sensibilidade só nasce da exposição repetida e profunda a obras bem construídas — e, mais importante, da reprodução deliberada dessas obras na própria fala e escrita.

Com o tempo, essa combinação de leitura, imitação e memorização transforma o modo como se pensa. E aqui está um ponto que poucos percebem: não existe pensamento claro com linguagem confusa, nem pensamento confuso com linguagem clara. As duas coisas se moldam mutuamente. Ao dominar estruturas de frase mais complexas, o escritor se vê obrigado a ordenar melhor as ideias. Ao ordenar melhor as ideias, torna-se capaz de usar a linguagem com mais precisão. É um ciclo virtuoso que só pode começar com o treino sistemático.

Outro efeito, talvez o mais importante, é a capacidade de manter a unidade do texto ou discurso. Quem se acostuma a memorizar longos trechos e a compreender a arquitetura interna de uma obra aprende, sem perceber, a construir textos que não se desfazem no meio do caminho. A unidade e a harmonia deixam de ser virtudes “estéticas” e passam a ser ferramentas de convencimento. Um discurso mal estruturado é como uma ponte com buracos: mesmo que a paisagem seja bela, ninguém atravessa com segurança.

Em vez de passar semanas com um único livro, o estudante lê resumos ou assiste a vídeos explicativos. Em vez de praticar a escrita imitativa, limita-se a postar opiniões instantâneas nas redes sociais. E, em vez de memorizar, confia que poderá “buscar no Google” a qualquer momento - é uma terceirazação da memória e da reflexão crítica que destrói a estruturação do pensamento. 

O domínio da linguagem é, portanto, inseparável da formação cultural. É impossível falar bem se você nunca alimentou a mente com o que foi dito de melhor. É impossível criar harmonia textual se nunca se estudou a harmonia real de uma obra acabada. E é impossível convencer com palavras se o seu vocabulário é um rebanho de lugares-comuns. Quem quiser resgatar a arte de falar — e de pensar — precisa resgatar também esse tripé esquecido: leitura profunda, imitação inteligente e memorização sistemática.

3. A formalização e o encolhimento da criatividade

A vida intelectual brasileira dos últimos cinquenta anos sofreu um fenômeno que poucos percebem: a transformação da cultura em carreira, da carreira em militância de assuntos banais, temas imbecilizados. 

Hoje, basta que um qualquer solte uma frase abjeta em um vídeo de segundos, e logo a multidão, em êxtase bovino, repete aquela tolice como se fosse revelação. Um idiota decide viver de couve com limão, e em pouco tempo há teses improvisadas, comentários histéricos, tratados digitais sobre o milagre da clorofila. O mesmo se dá na política: alguém critica o governo, e eis que surge o rebanho de estúpidos, reduzindo toda questão à puerilidade de “Botão da tropa do fulano”.

Enquanto isso, homens são educados para a covardia, ridicularizados e adestrados; mulheres são convertidas em caricaturas de tiranas, hostis e dominadoras. Esta inversão é vendida como progresso, mas não passa de receita para a servidão. Porque um povo de homens emasculados, frágeis, entretidos com ninharias, é precisamente o que sustenta um governo tirânico.

A universidade, que deveria ser apenas um dos canais para o cultivo do pensamento, tornou-se o monopólio da atividade intelectual partidarizada. Isso parece, à primeira vista, um avanço institucional. Mas, como toda monopolização, produziu um efeito colateral devastador: a uniformização. Quando o pensamento vira “plano de carreira”, e depois plano de tirania de um pensamento político distorcido, cada passo, cada palavra e cada opinião passam a ser calibrados não pela busca da verdade, mas pela preservação de posições e benefícios do pertencimento.

No passado, o intelectual podia se dar ao luxo de ser errático, ousado e até contraditório. Rui Barbosa, por exemplo, cometia excessos retóricos e mudanças de posição que hoje lhe custariam cancelamentos e patrulhas ideológicas. Mas é justamente essa liberdade de errar — de testar hipóteses e mudar de rumo — que mantém viva a criatividade. Na lógica atual, essa liberdade foi sacrificada no altar da estabilidade. Hoje, o professor universitário busca se enquadrar em linhas de pesquisa aprovadas, em agendas de financiamento, partidarização de políticas identitárias e em um discurso que não desagrade aos grupos que controlam as instâncias acadêmicas.

Professores são expulsos, impedidos de entrar na sala de aula por grupos enviesados e bestializados, por expor um pensamento acadêmico fora dos autores e obras aceitas pelo grupo. Muitos não exercem a função de promover o debate necessário, preferem militar sobre ideologias controvérsias, formam verdadeiros rebanhos em torno de uma ideia de tendências. 

Essa formalização se refletiu diretamente na oratória e na escrita. O discurso político, por exemplo, tornou-se um produto terceirizado: redatores profissionais moldam cada frase para evitar qualquer colisão com a sensibilidade do público ou com o politicamente correto vigente - e o pior, mesmo com toda essa assessoria, os discursos são pobres, vazios e sem personalidade. O resultado é um amontoado de platitudes, cuidadosamente embaladas, que não dizem nada. É como se a verdade tivesse sido substituída por um catálogo de expressões seguras, aprovadas por um comitê invisível. Ninguém corre risco; ninguém acerta de verdade. 

Sempre há uma besta engravatada repetindo, com a solenidade de um papagaio em luto: “Ainda não conversei com minha equipe; assim que me inteirar, emitirei uma nota.” É o teatro da impotência, em que cada sílaba já nasce morta. Multiplicam-se as fórmulas protocolares: “Repudiamos tal ato”; “faremos todo o possível para apurar os fatos.” Palavras ocas, repetidas à exaustão, como preces de uma religião burocrática. 

Quando se retira do orador ou do escritor a possibilidade de improvisar, de errar e de aprender com o erro, o que sobra é um conjunto de técnicas para “falar bonito” sem substância, às vezes nem com toda uma equipe por trás de um simples parágrafo, se produzem grande coisa, acredito que isso seja o mais preocupante - pois se eu estivesse pagando uma equipe para criar algo por mim, mínimo esperado seria discursos sagazes, inteligente e perspicaz. 

É o fenômeno que vemos hoje: frases polidas, mas ocas; textos impecavelmente estruturados, mas destituídos de alma. A linguagem vira uma vitrine, e não um instrumento de pensamento.

Outra consequência desse processo é a substituição da cultura viva pela cultura protocolar. Cultura viva é aquela que circula no debate público, que se renova no confronto de ideias, que aceita e até estimula o dissenso. Cultura protocolar é a que se resume a currículos, títulos e certificações. O que importa não é o conteúdo, mas o carimbo. Isso explica por que tantos doutores e mestres não conseguem escrever um parágrafo que prenda a atenção de um leitor comum: eles não foram treinados para comunicar, mas para acumular insígnias.

A formalização também afetou o público. Acostumado a discursos “seguros” e previsíveis, o ouvinte moderno reage com espanto — e muitas vezes com hostilidade — a qualquer fala que saia do roteiro. É por isso que tantas histórias vividas no passado soam, hoje, como invenções. Quando alguém relata a intensidade e a espontaneidade de experiências de outras épocas, o público tende a acusar de exagero ou mentira. A imaginação coletiva foi amputada pela padronização da experiência.

Em uma conversa de bastidor no Congresso Nacional, ao ser questionado por jornalistas sobre as constantes mudanças de alianças e posições políticas em Brasília, Tancredo Neves respondeu com uma metáfora que se tornou imortal: “A política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.” E o que dizer da célebre tirada de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, na década de 1920: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei.” Imagine-se o efeito de semelhante ironia nos dias atuais: um terremoto de indignações fabricadas, alvoroço midiático e pedidos de punição por suposta violação do decoro parlamentar.

A mídia tem papel decisivo nesse encolhimento da consciência pública ao transformar cada evento em espetáculo controlado. Crimes, tragédias, escândalos — tudo se encaixa em um protocolo narrativo que padroniza a emoção. Primeiro, uma narrativa gélida sobre um crime brutal; em seguida, a inserção de uma crise política, narrada com serenidade ou histeria, conforme o lado que a conveniência editorial; por fim, os gols da rodada, para que o público, já atordoado, possa distrair-se da violência exposta e esquecer a crise política encenada. 

No passado, um assassinato podia mobilizar o país inteiro, não apenas pela gravidade do fato, mas pelo impacto genuíno que causava nas conversas, nos jornais e na vida cotidiana. Hoje, a notícia é absorvida, comentada superficialmente e descartada em minutos. A narrativa já não nasce das pessoas; nasce da redação, pronta para consumo, resumida em 150 caracteres, debatidas por outros 150 caracteres… até a próxima palhaçada de algum desconhecido em uma rede social qualquer ou uma música obscena lançada por zé ninguém qualquer. 

Esse ambiente pasteurizado não é fértil para a originalidade. Originalidade exige espaço para o improviso, para a contradição, para a experimentação. Mas quem ousa improvisar arrisca-se a perder o emprego, ser “cancelado”, perder o financiamento ou a reputação. A consequência é uma geração de intelectuais e oradores domesticados, que sabem repetir o repertório autorizado, mas não sabem criar um novo.

A ironia é que a formalização, que nasceu para dar credibilidade à vida intelectual, acabou retirando dela a vitalidade. É como uma orquestra que toca com perfeição técnica, mas sem paixão: cada nota está no lugar certo, mas não há música de verdade. A vida intelectual transformada em burocracia produz textos e discursos impecáveis… e irrelevantes. O fato mais curioso é que a moda do momento é criar falsos erros, improvisações ensaiadas, interações forçadas e desconfortáveis de se assistir, pessoas sem formação técnica, mas que influenciam gerações em redes sociais falando sobre o que não entendem – tudo para ser engraçado, despojado, criado para  falar para um público jovem, uma cultural woke ou qualquer coisa do tipo, interessada em prazeres vazios e fáceis.  

4. O papel da memória e do registro histórico na formação da consciência pública

A memória não é apenas um depósito de recordações individuais. Ela é o cimento da civilização. Uma sociedade que perde a memória perde, junto, a capacidade de interpretar o presente e projetar o futuro. No Brasil, essa erosão da memória coletiva não é acidente: é um processo cuidadosamente cultivado por décadas de destruição educacional e banalização cultural. A consequência é um país onde o passado recente é tão obscuro quanto o passado remoto — e onde cada geração começa do zero, condenada a repetir os mesmos erros com a mesma ingenuidade.

Pare um instante e pense: quando foi a última vez que a literatura brasileira produziu uma obra de valor real — que não fosse fruto de uma modinha passageira —, capaz de resistir à crítica e sobreviver ao tempo? A falha começa na própria linguagem: um escritor precisa dominar as palavras, não apenas a semântica fria do dicionário, mas a arte de escolhê-las uma a uma, de dar forma e substância à ideia. Para isso é preciso vida, experiência, intimidade com os personagens, com a cultura, com as entranhas do Brasil.

A memória de uma sociedade nasce da experiência de quem desceu ao inferno e voltou para contar o que viu. Hoje, porém, vivemos sob o império da amnésia voluntária: a sociedade sente-se obrigada a assassinar o passado, em vez de aprender com ele. O resultado é uma literatura frouxa, sem carne nem espírito, um amontoado de groselha cultural: pedaços de filmes, manchetes, frases soltas de redes sociais, tudo jogado numa caçarola e servido como se fosse pensamento.

O registro histórico, outrora função nobre da imprensa, do ensino e das artes, foi reduzido a um arquivo seletivo, onde apenas certos fatos merecem ser lembrados e outros são sumariamente apagados. Essa amputação seletiva do passado cria uma sociedade esquizofrênica, incapaz de estabelecer conexões entre causas e efeitos. Não é à toa que qualquer conversa política no Brasil rapidamente descamba para slogans: “Faz o L” ou “Capitão”. Pois, sem memória, não há contexto; sem contexto, não há raciocínio.

A memória pessoal também sofre a mesma corrosão. Antigamente, um crime ou escândalo político entrava para a história oral do país. Famílias comentavam o caso por anos; intelectuais revisitavam os fatos em livros e palestras; estudantes eram instigados a investigar a fundo. Hoje, um crime mobiliza o país por alguns dias — quando muito — até que seja substituído pelo próximo trending topic. O registro não é mais histórico, mas efêmero, dissolvido no ciclo de 24 horas da mídia e das redes sociais.

Essa degradação da memória pública afeta diretamente a oratória e o pensamento crítico. Um orador de verdade precisa ser capaz de evocar acontecimentos passados, estabelecer paralelos, demonstrar continuidades e rupturas. Mas como fazer isso diante de um público que não conhece, ou não se lembra, de nada além da última polêmica do noticiário? A consequência é que o discurso se reduz a um espetáculo de frases de efeito, descoladas de qualquer linha temporal coerente.

Mais grave ainda é a substituição da memória viva pela memória pasteurizada. Quando a história é contada apenas por canais oficiais ou filtrada por interesses ideológicos, ela deixa de ser patrimônio coletivo e se transforma em propaganda. É o que acontece quando manuais escolares omitem personagens e eventos cruciais porque “não se encaixam” na narrativa desejada. O aluno não aprende história; aprende um roteiro político. E quem controla esse roteiro controla a percepção da realidade.

Esses bobos da cortes digitais, idiotas úteis geralmente encontrados e geminados pela esquerda radical, pavoneiam-se nas redes sociais como se fossem os grandes justiceiros da humanidade, cancelando estátuas, livros e pessoas ao sabor de modinhas politicamente corretas. Uma colonização ideológica que esmaga a liberdade de expressão, enquanto levando a bandeira de liberdade de expressão – não sei se isso é irônico ou apenas ignorância intelectual vil. 

Tentam reescrever a história com a hermenêutica dos imbecis coletivos contemporâneos, negando o livre-arbítrio e a providência divina que moldam as culturas ao longo dos séculos. É o triunfo da estupidez coletiva, um Macarthismo invertido que presenteia a direita com o espetáculo da autodestruição da esquerda, e que aqui no Brasil, terra de intelectuais de araque, passa batido no silêncio cúmplice dos progressistas de salão, grandes mídias que tentam se reinventar e se alinhar aos novos imbecis coletivos que essa cultura tem produzido, mais preocupados com vacinas, em defender artes e culturas que promovem a adultização de crianças, pronomes neutros  e passaportes do que com questões públicas, econômicas e políticas que requerem atenção da sociedade, as quais versam sobre o futuro do país.

O resultado é uma população intelectualmente órfã. Sem referências sólidas, o brasileiro médio precisa reinventar interpretações para cada novo evento, como se o país tivesse acabado de ser descoberto ontem. Esse vazio histórico alimenta um clima de infantilização política, em que os cidadãos buscam “salvadores da pátria” porque não se lembram, ou não sabem, que já tentaram isso antes — com os mesmos desastres de sempre.

A memória, ao contrário do que pregam certos modernistas ingênuos, não é um peso do qual devemos nos livrar para “viver o presente”. Ela é o mapa que nos permite atravessar o território complexo da realidade sem nos perdermos em cada esquina. Um povo que abdica da memória é como um viajante que queima o próprio mapa para não carregar peso: pode até caminhar mais leve, mas não chegará a lugar algum.

Não é coincidência que regimes autoritários e ideologias totalitárias sempre tentem reescrever ou apagar o passado. Controlar a memória coletiva é a forma mais eficiente de moldar o presente e o futuro. No Brasil, esse processo não precisou de censura explícita: bastou deixar a educação pública definhar e a cultura popular se reduzir a um catálogo de entretenimento vazio. O esquecimento veio por inanição.

Para reconstruir a consciência pública, não basta resgatar fatos; é preciso restaurar o hábito da recordação. Isso significa cultivar a leitura de fontes primárias, revisitar grandes discursos, ouvir gravações de oradores do passado, ler jornais antigos, analisar atas parlamentares de décadas atrás. É um exercício que exige paciência e disciplina — exatamente o oposto da gratificação instantânea a que fomos condicionados.

A memória não é apenas conteúdo; é também forma. Guardar um texto na cabeça, como se fazia com poemas ou discursos inteiros, treina a mente para reter estruturas complexas, para manter uma narrativa coesa do início ao fim. Esse treino é insubstituível na formação de um orador ou escritor. Sem ele, a fala se fragmenta, o pensamento se dispersa e a linguagem se reduz a espasmos retóricos.

Resgatar a memória coletiva e individual é, portanto, mais do que um capricho de saudosistas: é condição de sobrevivência intelectual. Uma nação sem memória é uma nação em coma, dependente de estímulos externos para reagir. E um povo que não se lembra não apenas esquece o que aconteceu — esquece quem é.

5. Prática oratória desde a infância e a importância de perder o medo de falar

A oratória, ao contrário do que se vende hoje em cursos de “comunicação assertiva”, não é um conjunto de truques para parecer seguro diante de um público. É uma extensão natural da capacidade de pensar com clareza e ordenar ideias de forma inteligível. E como toda habilidade humana complexa, ela não nasce de improviso, mas de prática sistemática e, sobretudo, precoce.

Falar em público é um ato de exposição. A maioria das pessoas teme mais ser exposta ao ridículo do que a própria morte — daí o pavor que muitos têm de encarar uma plateia. A criança que aprende cedo a lidar com essa exposição, que se acostuma a ser ouvida por outros, começa a desenvolver não apenas recursos expressivos, mas também resistência psicológica. No caso de Olavo de Carvalho, ele afirma que começou a falar em público aos oito anos. Não por coragem extraordinária, mas por pura cara de pau. E esse atrevimento, tão desvalorizado hoje, foi um dos maiores ativos da vida dele.

O ambiente cultural da época também ajudava. Não havia essa atmosfera paranoica do “politicamente correto”, onde cada palavra é examinada com lupa em busca de ofensas imaginárias. Falar em público era um exercício de liberdade real. Você podia errar, exagerar, provocar risadas, fazer analogias ousadas — e ninguém saía convocando linchamentos virtuais. Essa margem de liberdade permitia que o orador aprendesse pela tentativa e erro, sem a constante ameaça de execração.

A passagem pelo rádio, ainda na infância, foi outra escola. Ao trabalhar na Rádio Nove de Julho, Olavo afirma ter percebido que falar para um microfone exige um tipo diferente de atenção. Não se trata apenas de pronunciar palavras, mas de criar imagens mentais no ouvinte, de sustentar o interesse sem o apoio da expressão facial ou gestual. Essa é uma arte que está desaparecendo. Hoje, a oratória se apoia excessivamente em recursos visuais, e poucos conseguem manter a atenção de uma plateia apenas com a força da voz e do argumento.

Mais tarde, a experiência mostrou que a teoria retórica — Aristóteles, Cícero, Quintiliano — é útil, mas não cria o orador. Ela apenas fornece nomes para técnicas que a prática já havia me ensinado. É como estudar anatomia depois de ter aprendido a andar: ajuda a entender o que já se faz instintivamente, mas não substitui o aprendizado pelo uso constante.

O aspecto psicológico é central. Quem deseja falar bem deve, antes de tudo, perder o medo. Isso não se consegue assistindo palestras motivacionais ou repetindo frases diante do espelho. Consegue-se falando. Falando muito. Falando para públicos diferentes, em contextos variados, arriscando-se a errar em voz alta. É na superação desse desconforto inicial que nasce a confiança verdadeira — e não aquela autoconfiança artificial vendida em pacotes de “coach”.

Vale notar que a oratória não é apenas a capacidade de persuadir, mas também de mobilizar. Um bom orador pode reunir oitenta pessoas em uma tarde, mesmo que no início houvesse apenas duas dispostas a participar. Esse poder de convocação vem do domínio da palavra falada, da habilidade de transmitir não apenas informações, mas também energia e propósito. Sem isso, qualquer discurso, por mais bem estruturado que esteja, morre no ar.

No Brasil, o padrão de oratória já foi infinitamente superior. Basta ouvir discursos de Carlos Lacerda ou Paulo Brossard para perceber a diferença. Eram falas densas, repletas de alusões históricas, ironias afiadas e raciocínios encadeados. O ouvinte era tratado como alguém capaz de acompanhar ideias complexas, e não como um consumidor de slogans mastigados. O declínio veio com a pasteurização da vida política e a terceirização dos discursos para assessorias que produzem textos sem risco e sem vida.

O medo de falar em público hoje se soma ao medo de pensar em público. Como resultado, a linguagem se torna previsível, cautelosa, mecânica. Oradores de verdade são raros porque quase ninguém aceita o custo de se expor sem filtro. Essa recusa tem um preço alto: a morte da espontaneidade e, com ela, da comunicação genuína.

Por isso, quem deseja desenvolver a oratória precisa começar cedo, falar muito, ouvir bons modelos e, principalmente, enfrentar plateias reais. Não existe treino equivalente. E se for para aprender algo com a minha experiência, é que a cara de pau, quando bem direcionada, é uma virtude — talvez a primeira virtude de todo grande orador.

Se quisermos compreender o estado atual da oratória no Brasil, basta comparar um discurso parlamentar dos anos 1950 ou 1960 com qualquer intervenção recente no Congresso. A diferença é tão brutal que não se trata apenas de um rebaixamento de nível; é uma transformação estrutural do modo como a palavra é usada — e do tipo de mente que ela revela.

No passado, o discurso político era, antes de tudo, uma demonstração de capacidade intelectual. Um Carlos Lacerda não subia à tribuna para repetir três ou quatro frases preparadas por um assessor apavorado com o “repercussão negativa no Twitter”. Ele subia com um arsenal de referências históricas, citações literárias, ironias bem calculadas e, principalmente, um raciocínio encadeado que levava o ouvinte do ponto A ao ponto Z sem perder o fio. Ouvir um discurso desses era uma experiência cognitiva: obrigava o público a pensar.

Hoje, os políticos parecem falar como se estivessem negociando um contrato de prestação de serviços com uma plateia infantilizada. Cada frase é cortada em pedaços curtos, sem encadeamento lógico, porque se parte do pressuposto de que ninguém é capaz de acompanhar ideias mais longas. O objetivo não é convencer, mas evitar problemas. Não é persuadir, mas não se comprometer. E, nessa lógica, a oratória morre antes mesmo de nascer.

Há ainda um fator decisivo: a terceirização da retórica. Raros são os políticos que escrevem seus próprios discursos. E quando escrevem, geralmente o fazem pensando em manchetes ou cortes de vídeo, e não na substância do argumento. É uma linguagem moldada para sobreviver às redes sociais, e não para enfrentar um adversário no campo das ideias. Resultado: um desfile de frases feitas que se encaixariam perfeitamente em um folheto de campanha genérico.

O politicamente correto agravou essa mediocridade. Antes, um parlamentar podia chamar o outro de incompetente, mentiroso ou até mesmo, como no célebre caso de Lacerda e Conceição da Costa Neves, dizer: “O senhor não serve para nada” — ao que recebia a réplica: “E a senhora é o nada em pessoa.” Esse tipo de embate, que exigia rapidez de raciocínio e coragem verbal, hoje seria imediatamente transformado em escândalo. E, para evitá-lo, prefere-se a linguagem insossa e burocrática, que não ofende, mas também não convence.

Essa mudança de clima acompanha a degradação do sistema educacional brasileiro, que deixou de formar leitores e passou a produzir militantes de cartilha. Quando a mente é treinada apenas para repetir slogans ideológicos, ela perde a capacidade de articular um argumento complexo. E se não há pensamento complexo, não pode haver oratória digna desse nome. O declínio retórico é, portanto, um sintoma da falência intelectual do país.

A burrice política contemporânea não é acidental, mas funcional. Uma classe política incapaz de discutir problemas reais e soluções concretas é mais fácil de manipular — tanto por grupos de interesse quanto por estruturas partidárias. O rebaixamento do nível do discurso interessa a quem prefere manter a política como um jogo de torcida, em que se grita para intimidar e se paga para convencer, mas nunca se argumenta para persuadir.

O que se perdeu não foi apenas o vocabulário ou a capacidade técnica de falar bem. Perdeu-se o prazer de debater, o gosto pelo confronto intelectual. O discurso político deixou de ser um campo de batalha de ideias para se tornar uma encenação protocolar. As sessões parlamentares, que já foram palcos de debates memoráveis, hoje mais lembram reuniões de condomínio mal organizadas.

Isso tem consequências profundas para a vida pública. Sem uma retórica forte, capaz de colocar questões complexas em termos claros, o cidadão médio perde a referência do que é um bom argumento. A política se reduz a uma disputa de narrativas simplistas, e o eleitor passa a escolher não pelo mérito das ideias, mas pela identificação emocional com slogans. A degradação da oratória, portanto, é também a degradação da própria democracia.

Recuperar o padrão retórico não é apenas uma questão de estilo; é uma questão de saúde intelectual nacional. Enquanto os representantes do povo continuarem a falar como vendedores de pacote turístico, incapazes de sustentar um raciocínio, não haverá espaço para uma política madura. E isso exige não apenas que se formem bons oradores, mas que se formem bons ouvintes — coisa rara em um país onde poucos leem e menos ainda prestam atenção.

7. O analfabetismo funcional e a burrice da classe política

O analfabetismo funcional não é só uma praga que assola as massas ignorantes, mas o veneno que corrói as entranhas da classe política brasileira, transformando supostos líderes em marionetes balbuciantes, incapazes de articular uma frase coerente sem recorrer a um teleprompter ou a um assessor de araque. Veja bem, isso não é acidente; é o fruto podre de um sistema educacional deliberadamente sabotado, onde o que se ensina não é o domínio da linguagem, da lógica ou da história, mas a repetição mecânica de slogans ideológicos que servem para encher linguiça em discursos vazios. O político de hoje lê um texto e entende menos que uma criança de dez anos na época do Império, quando até os escravos, aos quais lhes eram negados os acessos e oportunidades sociais, sabiam recitar Camões de cor.

Essa burrice instalada no topo da pirâmide social vem diretamente da destruição da educação, que outrora formava homens capazes de debater com profundidade, como Ruy Barbosa ou Joaquim Nabuco, e agora vomita analfabetos diplomados, que mal conseguem resolver equações simples como equilibrar um orçamento sem roubar. Imagine um deputado federal discutindo reforma tributária: ele não entende o conceito de progressividade fiscal porque nunca leu Adam Smith com seriedade, só papagaiou o que o professor marxista da universidade lhe enfiou goela abaixo. O resultado? Leis que mais complicam do que resolvem, gerando um caos onde problemas elementares, como consertar uma rua esburacada, viram novelas intermináveis de licitações fraudulentas.

A classe política atual é o espelho deformado dessa educação arruinada, onde o aluno não aprende a pensar, mas a reagir pavlovianamente a estímulos ideológicos. Um ministro da economia que não sabe diferenciar déficit primário de dívida bruta é o produto final de escolas que priorizam "consciência de classe" em vez de aritmética básica. E o pior: esses incapazes são eleitos por uma população igualmente emburrecida, criando um ciclo vicioso onde a ignorância se reproduz como coelhos em época de seca. Não é à toa que o Brasil patina em crises recorrentes; líderes sem ferramentas intelectuais para diagnosticar problemas simples acabam apelando para soluções mágicas, como imprimir dinheiro ou culpar o "imperialismo yankee".

Agora, pense na retórica, essa arte nobre que Aristóteles elevou a instrumento de persuasão racional, e veja como ela degenerou em mero instrumento de torcida organizada ou de corrupção descarada. O político moderno não convence pelo argumento sólido, mas pelo grito coletivo de militantes pagos para aplaudir em comícios, transformando o debate público em uma partida de futebol onde o que vale é o barulho, não o gol. Hoje, é um festival de memes e hashtags, onde o retórico é quem mobiliza mais bots no Twitter.

Essa transformação da retórica em torcida é o sintoma de uma sociedade que perdeu o respeito pela palavra falada, substituindo-a pelo ruído coletivo. Um senador que discute impeachment não usa silogismos aristotélicos, mas apela para a "voz das ruas", que na verdade é a voz de ONGs financiadas por Soros ou por cartéis de empreiteiras. E quando a torcida falha, entra a corrupção: propina para comprar votos no Congresso, suborno para silenciar opositores. Não é retórica; é prostituição verbal, onde a palavra serve não para iluminar, mas para encobrir o roubo.

Criticar a instrumentalização ideológica da educação é chover no molhado? Não, é desmascarar o crime hediondo que a esquerda cometeu ao tomar de assalto as escolas e universidades, transformando-as em fábricas de militantes analfabetos. Desde os anos 80, com a infiltração gramsciana, o currículo foi adulterado para priorizar "educação libertadora" de Paulo Freire, que na prática liberta o aluno do conhecimento e o escraviza à ideologia. Resultado: gerações de professores que não sabem gramática, mas discorrem horas sobre "opressão patriarcal", produzindo políticos que repetem o mesmo papo furado sem resolver nada.

Essa instrumentalização não é inocente; é uma estratégia calculada para perpetuar o poder. A esquerda domina o Ministério da Educação há décadas, uma inocência política da direita, que agora se revolta contra o sistema de ensino, preso a ele. Eles reduziram o ensino de história a uma narrativa vitimista, eliminou a literatura clássica por ser "eurocêntrica" e encheu as salas de aula com cartilhas sobre gênero e raça, transformou matemática em um ciência subsidiária, supervalorizando ciências retóricas. Assim, forma-se uma classe política emburrecida, dependente de assessores ideológicos, incapaz de inovar ou resolver crises como a da saúde pública, onde um vírus vira pretexto para autoritarismo em vez de planejamento racional.

O analfabetismo funcional na política se manifesta na incapacidade de ler entre linhas, literal e metaforicamente. Um presidente que assina decretos sem entender as implicações jurídicas é o exemplo vivo dessa burrice: ele aprova leis que contrariam a Constituição porque nunca estudou direito romano ou federalismo com seriedade. E a educação destruída é a culpada, pois trocou o rigor intelectual por "inclusão social", que na prática inclui todos na mediocridade coletiva.

Veja a retórica corrompida: em vez de debates parlamentares com alusões a Cícero ou Demóstenes, temos sessões onde deputados gritam "fora fascista" ou "golpista", sem argumentos, só torcida. Isso não persuade; intimida. E quando a intimidação não basta, a corrupção entra: um voto comprado por emendas parlamentares, uma lei aprovada por favores pessoais. Aristóteles rolaria no túmulo vendo sua arte reduzida a isso.

Eles transformaram escolas em centros de doutrinação, onde o aluno sai sabendo odiar o capitalismo, mas não somar frações. Essa burrice se reflete na política, com líderes que tratam inflação como "conspiração das elites" em vez de desequilíbrio monetário.

Problemas simples, como saneamento básico, viram enigmas insolúveis porque a classe política, formada nessa educação falida, prefere discursos inflamados a soluções técnicas. Um prefeito que não entende engenharia hidráulica apela para torcida popular ou corrupção com construtoras, perpetuando o caos.

A retórica como instrumento de corrupção é o ápice da degradação: o político não fala para convencer o intelecto, mas para lubrificar negócios escusos. Um discurso contra a corrupção pode ser mera cortina de fumaça para desviar verbas, e a educação ideológica ensina exatamente isso: usar palavras como armas de engano.

Instrumentalizar a educação para fins ideológicos é um crime contra a nação, pois rouba das futuras gerações a capacidade de pensar autonomamente. A esquerda, culpada disso, criou uma classe política de fantoches, burros o suficiente para serem manipulados por interesses estrangeiros ou corporativos.

O analfabetismo funcional torna líderes incapazes de prever consequências: uma reforma agrária mal feita vira favelas rurais porque ninguém leu Tocqueville sobre propriedade. A destruição educacional é a raiz, gerando burrice que se alastra como câncer.

Na retórica moderna, a torcida substitui o logos pelo pathos exacerbado, e a corrupção adiciona uma áurea do falso do "homem do povo". Sem educação verdadeira, isso vira norma, e problemas simples acumulam-se em montanhas de incompetência.

Conclusão: resgatando a palavra como ferramenta de pensamento

A palavra não é um ornamento, um brinquedo para sofistas de universidade ou um instrumento de manipulação para militantes; ela é o veículo do logos, o fio condutor que liga o homem à realidade, à verdade e à sua própria alma imortal. Sem ela, o pensamento vira uma gosma amorfa, um balbuciar de instintos primitivos disfarçados de "opinião progressista".

Resgatar a palavra começa pela valorização da memória, essa faculdade desprezada pelos modernos que preferem o Google ao esforço de reter conhecimento. Decore textos, poesias, sinfonias inteiras, como a Quinta de Beethoven, repetindo-a cinquenta vezes até que cada nota se gravasse na mente como uma estrutura orgânica. A memória não é um armazém passivo; é o alicerce do pensamento criativo, o que permite conectar ideias distantes sem cair na fragmentação caótica dos analfabetos funcionais que pulam de tweet em tweet.

Sem memória forte, a leitura profunda vira uma piada, uma leitura superficial que os universitários de hoje confundem com estudo. Ler profundamente significa mergulhar no texto como se fosse um combate corpo a corpo, extraindo não só o significado óbvio, mas as camadas simbólicas, as contradições internas, as alusões históricas que um Aristóteles ou um Platão teciam com maestria. Eu li a literatura brasileira e portuguesa na juventude não para acumular diplomas, mas para assimilar estilos, imitar autores como Machado de Assis ou Eça de Queirós, moldando minha linguagem até que ela se tornasse uma extensão do meu ser.

A prática constante é o terceiro pilar: não adianta teorizar sobre a palavra se você não a exercita diariamente. Prática não é repetição mecânica; é o forjar da alma no fogo da disciplina, transformando o caos das ideias em estruturas coesas que resistem ao tempo. Quem ignora isso acaba como os escritores modernos, vomitando groselhas ideológicas sem substância, sem vivência real.

Pensar bem em público exige perder a timidez, é dominar a retórica não como truque, mas como extensão da inteligência. Aristóteles já ensinava: pathos, ethos e logos em equilíbrio, mas hoje o pathos da torcida organizada substitui tudo, e o ethos é falso, corrompido por propina. A oratória verdadeira revela o homem inteiro, suas virtudes e falhas, forçando-o a confrontar a realidade sem muletas ideológicas.

Sem essa capacidade, o debate público vira uma palhaçada, como nos parlamentos atuais, onde ninguém entende alusões complexas porque a educação foi destruída. Pensar em público é arriscar, é expor o pensamento à refutação, o que os covardes do politicamente correto fogem como o diabo da cruz, preferindo cancelar o oponente a enfrentá-lo.



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